Cuiabá, 15 de Julho de 2025

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eleições 2026

Tarifaço de Trump escala disputa entre Eduardo e Tarcísio, que buscam bênção de Bolsonaro

Ambos são apontados como prováveis candidatos à Presidência diante da inelegibilidade do ex-mandatário

O Globo

O “tarifaço” anunciado pelo presidente americano Donald Trump levou a uma escalada da disputa entre o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Os dois são apontados como prováveis candidatos à Presidência diante da inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL). Na segunda-feira, após uma série de críticas veladas, Eduardo expôs seu incômodo com Tarcísio e classificou como “falta de inteligência e de respeito” a tentativa de negociar acordos com o governo americano e com o Supremo Tribunal Federal. O governador, por outro lado, manteve a abordagem conciliatória e chamou o encarregado de negócios da embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, para uma segunda reunião em cinco dias.

 Em meio às divergências entre Eduardo e Tarcísio, outros filhos do ex-presidente sinalizaram concordância com os movimentos do governador. Bolsonaro, por sua vez, disse à Jovem Pan ter se reunido longamente com Tarcísio na última semana e que o aliado “tem a agenda dele, tenho a minha e temos a nossa”.

Eduardo, que se licenciou do mandato em março e permanece nos EUA desde então, já vinha mostrando descontentamento com ações de Tarcísio. Nesse período, o governador se cacifou como o mais cotado para disputar a Presidência com aval de Bolsonaro. Na segunda-feira, o deputado criticou Tarcísio por se reunir com o encarregado de negócios dos EUA, sob a justificativa de “sensibilizar” o governo americano a recuar.

“Sexto escalão”
Eduardo alegou que o movimento de Tarcísio não foi combinado com o pai. O deputado também criticou a proposta do governador, levada a ministros do STF, para uma devolução do passaporte de Bolsonaro, a pretexto de o próprio ex-presidente negociar uma solução com Trump. O documento está retido desde fevereiro de 2023, devido à ação da tentativa de golpe.

— Faltou inteligência ao Tarcísio nesta negociação, e faltou respeito a mim. Bolsonaro tem um filho nos Estados Unidos, com acesso à Casa Branca, e ele tenta passar por cima disso, dialogando com pessoas do sexto escalão da diplomacia americana, sem nos consultar. É uma clara falta de respeito. E o pior: sem consultar Jair Bolsonaro. Não sabemos a interpretação que os ministros do Supremo podem ter de um pedido para que ele venha aos EUA — disse o deputado federal.

A crítica ocorre em um momento em que aliados de Bolsonaro vêm cobrando, nos bastidores, que Eduardo retorne ao Brasil e reassuma o mandato de deputado. A avaliação é que, com a medida de Trump, a “missão foi cumprida” nos EUA. O período de licença não remunerada a que Eduardo tem direito vence no fim deste mês; caso não volte ao país, o deputado corre risco de cassação. Na segunda-feira, Eduardo disse ao GLOBO que não pretende abrir mão do próprio mandato e que é possível que ele seja cassado “por faltas”.

 O governador, por outro lado, participa hoje de uma reunião com 15 empresários para discutir o tarifaço. O encontro, segundo um integrante da gestão paulista, deve ter a participação de Escobar, com quem Tarcísio já se reuniu na última sexta-feira em Brasília. Segundo aliados, Tarcísio “busca uma posição na mesa” de negociações, já que São Paulo é um dos estados mais afetados pela medida de Trump.

A iniciativa do governador paulista de buscar diálogo com o encarregado de negócios dos Estados Unidos já havia sido elogiada, na sexta-feira, pelo vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL), irmão de Eduardo.

No mesmo dia, Eduardo fez nas redes uma crítica velada à movimentação de Tarcísio. Disse que a busca por uma solução rápida para o tarifaço “não fará de ninguém um salvador da pátria”, e criticou tentativas de acordo que não envolvessem anistia para o pai.

Já outro de seus irmãos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), havia sugerido na quinta-feira que o STF poderia “devolver o passaporte” para o ex-presidente viajar aos EUA.

As críticas de Eduardo haviam ganhado relevo no último mês, após Tarcísio viajar aos Estados Unidos e adotar um discurso de presidenciável em reuniões com executivos. Em entrevistas, o deputado disse que Tarcísio seria candidato à reeleição, e também avaliou que uma eleição sem o pai teria espaço apenas ao que chamou de “direita permitida”. Aliados do ex-presidente também criticaram, de forma reservada, o fato de Tarcísio evitar ataques ao STF em manifestações bolsonaristas.

No domingo, em um culto na Califórnia, Eduardo argumentou ter visto pesquisas que apontam a si mesmo como “o primeiro que bateria” Lula nas eleições, em caso de ausência do pai nas urnas. A última pesquisa Quaest, porém, mostrou Tarcísio como o mais votado contra o petista, em uma eleição sem Bolsonaro.

Fim da licença
Licenciado do próprio mandato desde março, Eduardo diz que não renunciará ao posto, já que o prazo de afastamento se encerra no próximo domingo. Ele diz ser possível perder o mandato por faltas, a exemplo do que aconteceu em abril, quando a Mesa Diretora da Câmara cassou o mandato do deputado Chiquinho Brazão por faltar a sessões plenárias.

 — Eu não abro mão do meu mandato, não vou renunciar. Estou fora do Brasil por um motivo, com propósito, e não vou colaborar com um sistema que quer me prejudicar. Ainda estou debatendo a possibilidade com a minha assessoria, mas é certo que não vou abrir mão do mandato. É possível que cassem por faltas, se for o caso, podem cassar — completou Eduardo.

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