Cuiabá, 26 de Setembro de 2025

BRASIL Quinta-feira, 25 de Setembro de 2025, 08:49 - A | A

Quinta-feira, 25 de Setembro de 2025, 08h:49 - A | A

reforçou imagem do Brasil

Participação de Lula na ONU foi objetiva, mas protagonismo depende de entregas concretas

R7

A Assembleia Geral da ONU se encerrou nesta quarta-feira (24) com destaque para a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou a atenção no cenário internacional.

Especialistas ouvidos pelo R7 avaliaram que o discurso do presidente projetou o Brasil no centro do debate climático e reforçou a imagem de Lula como liderança global. No entanto, as opiniões ficaram divididas quanto à efetividade e aos resultados práticos de sua fala.

Enquanto parte destacou o protagonismo brasileiro ao trazer pautas como créditos e sequestro de carbono, além de reafirmar compromissos com a democracia e o multilateralismo, outros consideraram a fala retórica e ideológica, sem detalhar medidas econômicas ou ações concretas que sustentem esse protagonismo até a COP30.

“A participação de Lula teve caráter tático e programático. Ele reafirmou temas centrais do governo e buscou projetar o Brasil como mediador e protagonista nas agendas do clima e da paz, projetando o país para a COP30. A consolidação desse protagonismo dependerá de entregas concretas (recursos, indicadores, redução do desmatamento) até a conferência. Sem esses resultados, o ganho de imagem pode ser frágil”, opinou o cientista político Murilo Medeiros.

Para o economista e CEO da Referência Capital, Pedro Ros, o presidente mais realizou um movimento de retórica política do que demonstrou resultados práticos.

“Ele buscou reposicionar o Brasil no cenário internacional, mas sua fala ficou marcada por discursos ideológicos e pouco pragmatismo econômico. A ênfase em temas globais, como clima e desigualdade, é válida, mas faltou clareza sobre como o Brasil pretende transformar esses compromissos em políticas concretas de crescimento e atração de investimentos”, declarou Ros.

Lula x Trump: tensão e cordialidade

Um dos pontos centrais da Assembleia foram os discursos entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano, Donald Trump. Os líderes mantêm uma relação marcada por tensão diplomática e clima pouco amistoso.

Sem citar nominalmente o presidente americano, Lula criticou as “sanções arbitrárias e unilaterais” dos Estados Unidos, afirmando que o mundo assiste a um crescimento do autoritarismo.

Em contrapartida, Trump elogiou Lula e disse que teve uma “química excelente” ao cumprimentar o líder brasileiro antes do início da ONU. O norte-americano também afirmou que ambos concordaram em ter “um encontro na próxima semana”.

O “esbarrão” ocorreu entre o fim da fala de Lula e o início da declaração de Trump. À reportagem, pessoas que presenciaram o aperto de mão disseram que o encontro foi mutuamente cordial.

Para especialistas, houve uma quebra de gelo entre os dois presidentes, o que pode ser uma oportunidade para uma possível reaproximação diplomática.

Segundo André Bergo, Lula adotou um tom firme e quase estadista, mesmo sem citar nominalmente os Estados Unidos. Já o presidente americano, na opinião de Bergo, realizou um movimento inesperado ao elogiar o líder brasileiro.

“O Trump saiu do roteiro dele, tirou o telepromter e falou do Lula. Aquela imagem dele vendo, antes de entrar, Lula pela televisão, acompanhando seu discurso, mostra que há um momento de discussão importante“, comentou.

Na avaliação do Planalto, a mensagem do presidente brasileiro foi clara, direta e contundente. Interlocutores próximos ao petista afirmaram ao R7 que o recado reforçou a postura do governo brasileiro desde o anúncio das sobretaxas a itens nacionais.

Essas fontes avaliam que o discurso de Lula foi “prontamente” recebido pelos americanos. Tanto é, analisam, que logo em seguida houve a sinalização de Trump para a conversa na próxima semana.

Ganhos e pontos de atenção nas falas de Lula

Segundo o professor de Economia Internacional João Gabriel, o saldo mais relevante do Brasil na ONU foi a discussão de questões climáticas e ambientais, visto que o país sediará a COP30 em novembro.

“O saldo mais relevante da presença dele foi justamente poder discutir as questões climáticas e ambientais que são caras para o mundo inteiro e, em especial, para o Brasil. Na COP30, teremos a discussão principalmente da questão do crédito de carbono, dos sistemas de crédito de carbono que são tratados no mundo inteiro. Terão muitos tratados, acordos que serão negociados, que serão efetivados e que nos levarão a pontos positivos no futuro com relação à tentativa do cumprimento do acordo de Paris, como, por exemplo, o TFFF, que é o Tropical Forest Forever Facility, um acordo que deve vir a ser tratado na COP30″,detalhou o especialista.

O economista Pedro Ros, por outro lado, acredita que o governo tenha perdido a oportunidade de mostrar o pragmatismo econômico. “Faltou um discurso mais firme sobre abertura comercial, acordos bilaterais e medidas de incentivo a investimentos estrangeiros.”

Saldo positivo

De forma geral, especialistas avaliam que o Brasil ganhou visibilidade em relação à COP30, mas ressaltam a necessidade de avançar além do discurso.

“A retórica de Lula na ONU ajudou a colocar a COP30 no centro do calendário diplomático. Mas há uma lacuna entre o discurso de liderança climática e a percepção internacional sobre a implementação de políticas ambientais no Brasil. Isso cria um desafio de credibilidade operacional para transformar promessas em resultados mensuráveis até a COP30″, frisou o cientista político Murilo Medeiros.

Na visão do professor João Gabriel, o Brasil sai da ONU bem posicionado para a conferência do clima, demonstrando que no país já foi aprovado um sistema de crédito de carbono.

Para o economista Pedro Ros, por sua vez, o país anda precisa investir em políticas claras para o evento climático. “O Brasil chega à COP30 com discurso forte na área ambiental, mas precisa provar que consegue equilibrar essa agenda com crescimento econômico. O país tem potencial em energias renováveis e bioeconomia, mas ainda carece de políticas claras e consistentes que atraiam capital estrangeiro”, destaca.

 

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