O cessar-fogo entre Israel e os terroristas do Hamas, em vigor desde a última sexta-feira (10), suspendeu os ataques israelenses na Faixa de Gaza, mas o território ainda vive confrontos, desta vez internos.
O grupo palestino entrou em conflito com um de seus principais rivais: o clã Doghmush, uma das famílias mais poderosas e fortemente armadas do território. Segundo o Ministério do Interior de Gaza, pelo menos 27 pessoas morreram, oito delas do Hamas.
Segundo a rede catari Al Jazeera, os combates começaram no sábado (11), um dia após o cessar-fogo. Testemunhas relataram que cerca de 300 combatentes do Hamas invadiram um bloco residencial na Cidade de Gaza, onde homens do clã Doghmush estariam escondidos.
Fontes locais disseram que os Doghmush resistiram com armamento pesado e que os confrontos deixaram mortos. O Hamas afirma que o grupo rival matou combatentes de suas brigadas antes do ataque.
Relatos citados pela Al Jazeera também apontam que há versões conflitantes sobre a origem dos Doghmush: algumas fontes locais dizem que o clã recebeu apoio de Israel, enquanto outras negam qualquer vínculo.
O chefe do clã em Gaza, Nizar Doghmush, disse ao jornal Los Angeles Times que recusou uma proposta dos militares israelenses para administrar uma “zona humanitária” e que seu bairro foi posteriormente bombardeado.
Quem são os Doghmush
O clã Doghmush é formado por centenas de integrantes distribuídos por várias cidades da Faixa de Gaza. Suas origens remontam à Turquia, e seus membros têm ligações com diferentes facções palestinas, incluindo o Fatah e o próprio Hamas.
Segundo o jornal árabe Asharq Al-Awsat, o grupo é tradicionalmente armado e vê as armas como parte da defesa das terras. Um dos líderes mais conhecidos, Mumtaz Doghmush, fundou o grupo Jaysh al-Islam (Exército do Islã), que chegou a declarar lealdade ao ISIS (Estado Islâmico).
O Jaysh al-Islam ganhou notoriedade por participar, ao lado do Hamas, do sequestro do soldado israelense Gilad Shalit, em 2006. O soldado foi libertado anos depois em uma troca de prisioneiros.
Desde então, o clã passou a ser visto como uma força paralela, que desafia a autoridade do Hamas e controla rotas de contrabando e redes de segurança locais. O paradeiro de Mumtaz Doghmush é desconhecido há anos, mas autoridades palestinas dizem que sua influência ainda é sentida em Gaza.
Rivalidade
O Hamas acusa o clã Doghmush e outras milícias de colaborar com Israel e de roubar armas e ajuda humanitária durante os combates. Já os Doghmush afirmam que o Hamas tenta eliminar qualquer grupo que ameace sua hegemonia.
Israel, por sua vez, tem histórico de apoiar milícias rivais do Hamas em Gaza, como as Forças Populares, lideradas por Yasser Abu Shabab, segundo a Al Jazeera. Essas alianças, no entanto, contribuíram para ampliar o caos interno no território.
Execuções públicas
Com o recuo parcial das tropas israelenses e a retomada de áreas em Gaza, o Hamas tem tentado restabelecer controle sobre o território. Segundo a rede britânica BBC, o grupo vem realizando execuções públicas de supostos traidores e membros de clãs rivais.
Vídeos mostram combatentes do Hamas executando homens desarmados em cruzamentos da Cidade de Gaza. As imagens exibem milicianos gritando “Viva as Brigadas al-Qassam!”, o braço armado do Hamas, após as execuções.
Moradores relataram medo e revolta com os atos. “Um homem mascarado mata outro homem mascarado sem julgamento. Isso não é resistência, é anarquia”, disse um advogado local à BBC.
Pressão internacional
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na terça-feira (14) que o Hamas deve se desarmar “rapidamente e talvez violentamente”. O líder norte-americano disse que, se o grupo não entregar suas armas, os EUA “o desarmarão”.
Enquanto isso, países como Turquia, Catar, Egito e Estados Unidos tentam mediar uma solução para reconstruir Gaza e evitar uma nova escalada. A ONU (Organização das Nações Unidas) estima que 84% do território foi destruído e que serão necessários US$ 70 bilhões para a reconstrução.