“O esporte é um direito dos nossos jovens, e a escola é espaço democrático para garantir esse acesso”, afirmou o professor e pesquisador Riller Silva Reverdito, ao abrir a roda de conversas no I Encontro Arteduf, que reuniu professores de Educação Física e Artes das Escolas Técnicas Estaduais de Mato Grosso (ETECs), administradas pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Seciteci).
Para o professor, a prática esportiva vai além das quadras: contribui para o desenvolvimento físico, social e emocional dos estudantes; além de uma questão pedagógica, é também de justiça social, fortalece vínculos e previne desigualdades.
“No ensino coletivo, a música ensina a ouvir e respeitar o outro. É nesse diálogo que a arte transforma”, completou o trombonista e educador Samuel Barros, ao compartilhar sua experiência na formação artística como instrumento de convivência e valorização das diferenças.
Para o músico, a vivência artística no ensino coletivo prepara o estudante para o trabalho e para a vida em sociedade, ao estimular cooperação, disciplina e criatividade, pois são habilidades tão essenciais quanto qualquer conteúdo técnico.
É com essas duas perspectivas e na contramão da lógica de ensino voltada unicamente ao mercado, uma nova energia começa a tomar forma nas Escolas Técnicas Estaduais (ETECs) de Mato Grosso: com corpo em movimento, som de violão, suor no treino funcional, arte no grafite, no palco e no compasso da dança.
Tudo isso compõe o Arteduf, projeto inédito da Seciteci que entrou em campo com uma proposta ambiciosa e necessária: tornar a formação técnica mais humana, criativa e conectada com os territórios onde essas escolas estão inseridas. O evento foi realizado nestes dias 6 e 7 de agosto, em Cuiabá.
O que se vê, no entanto, vai além do lançamento de um programa institucional. Conforme o secretário da Seciteci, Allan Kardec, o que está em curso é uma mudança de sensibilidade. “Em cada canto do Estado, professores vão colocar em prática propostas que dialogam diretamente com os jovens, suas culturas, dores, vivências e seus sonhos.”
Na ETEC de Campo Verde, o professor João Batista Franco Borges vai usar a Educação Física como linguagem de pertencimento e construção coletiva. Entre jogos populares, dança, ginástica e festivais interclasses, ele aposta na participação ativa e na autonomia dos estudantes.
“A gente quer movimento com sentido. Que os alunos se reconheçam no que fazem. Que haja vínculo”, conta o educador, que também articula parcerias com a disciplina de Artes e promove o uso de tecnologias e desafios interativos.
Assim como em Campo Verde, outras ETECs estão incorporando essa visão integradora, adaptando as atividades para dialogar com o território e ampliar a participação de estudantes e comunidade.
Em Várzea Grande, a professora Edmara Regina dos Santos desenha um projeto que une voleibol, xadrez e ginástica funcional com impacto social. A proposta, que nasceu para ser realizada apenas em sala, agora cresce com a participação da comunidade.
Edmara já planeja oferecer vivências para pessoas idosas, especialmente aquelas que não têm acesso a atividades físicas. “É um projeto para os alunos, mas é também para os bairros ao redor da escola. É saúde, bem-estar e inclusão, tudo junto”, destaca.
Na capital de Mato Grosso, o som das cordas dedilhadas embala a transformação na ETEC de Cuiabá. O professor Sidney Moura Duarte levou seus próprios instrumentos para começar as aulas antes mesmo de a escola estar equipada. Com violão, guitarra e parcerias firmadas, ele começou a construir com os alunos um repertório que vai além da técnica musical.
A proposta inclui também a produção de álbuns e partituras, conectando arte, tecnologia e expressão. “A arte é respiro, mas também pode ser caminho profissional. Isso muda a relação com a escola e com a vida”, diz.
Para Ederson Andrade, superintendente de Educação Profissional e Tecnológica da Seciteci., o Arteduf é mais que importante, é essencial. “É o que estava faltando para humanizar a formação técnica. Arte e esporte têm que ser da ordem do dia. Eles melhoram comportamento, ampliam visão de mundo e ajudam o aluno a projetar o futuro”, afirma.
O professor Alex Teixeira, coordenador do projeto, reforça que a iniciativa vai abranger todas as ETECs do estado. Serão desenvolvidas atividades em dança, teatro, música e artes visuais, sempre em diálogo com a realidade local e com os cursos técnicos ofertados.
“O estudante vai vivenciar essas práticas de forma concreta, e isso também contribui para o aprendizado das disciplinas técnicas. É uma formação completa, que integra emoção, razão, prática e sonho”.
De acordo com o coordenador, o Arteduf não quer substituir o que já existe. “Ele vem para somar, transformar e colorir o cotidiano das escolas técnicas com aquilo que nunca deveria ter saído de cena: a arte de educar com o corpo todo, com o território todo, com o ser humano por inteiro”, destaca.
A expectativa é que o Arteduf consolide uma nova cultura na EPT de Mato Grosso, na qual arte e esporte estejam no centro das estratégias de ensino, inspirando outras redes a adotarem práticas semelhantes.