Cuiabá, 25 de Abril de 2025

OPINIÃO Quarta-feira, 19 de Março de 2025, 09:53 - A | A

Quarta-feira, 19 de Março de 2025, 09h:53 - A | A

REGINA DELIBERAI TREVISAN

“Deus não é machista” e a contribuição das religiões cristãs para a misoginia

Mudanças na legislação, instituição de mecanismos estruturais de poder, políticas de incentivo à participação feminina, debates e combates, e outras táticas ainda não se mostraram suficientes para uma mudança neste lamentável quadro social.

REGINA DELIBERAI TREVISAN

Provavelmente, nem quando as mulheres tiveram que batalhar publicamente pelo seu direito ao voto as questões relacionadas ao feminino nunca foram tão discutidas, principalmente a misoginia. Tida pelo Professor Leandro Karnal como o pior dos preconceitos, o debate é sempre marcado por casos de feminicídio que se acumulam não apenas em nosso país. Mulheres são assassinadas pela força física masculina e certeza da impunidade, já que todo o sistema social está impregnado do mesmo preconceito. Mudanças na legislação, instituição de mecanismos estruturais de poder, políticas de incentivo à participação feminina, debates e combates, e outras táticas ainda não se mostraram suficientes para uma mudança neste lamentável quadro social.

Seria notável e motivos de grandes comemorações a diminuição da violência, a igualdade salarial, a divisão justa de cobranças e tarefas domésticas e o atendimento de outras demandas, mas isso colocaria fim ao preconceito? As mulheres protegidas porque o homem deixa de matar, por medo das consequências é um enorme feito e a justiça social clama por isso. Mas o preconceito tem raízes muito mais poderosas, fincadas no coração de cada um. O pensamento individual que força uma cultura a contrariar princípios de respeito e paz e até de desejos hollywoodianos de viver feliz para sempre.

A educação, sem dúvida, institui caminhos para a evolução de homens e mulheres, mas também não contribui tanto quanto necessário. Onde estão as brechas que possibilitam a difusão de um pensamento presente há milênios em culturas das mais diversas – cristãs, pagãs, indígenas, mulçumanas, judaicas etc.? A resposta a esta pergunta é bem complexa, mas se pode afirmar que nas religiões encontra-se boa fonte de problemas.

A reflexão e o estudo bíblico que levaram à edição do livro “Deus não é Machista” objetiva confrontar as ministrações religiosas a respeito do papel da mulher na família e na sociedade, com base na Bíblia e uma interpretação nova – não machista, com base também na Palavra e naquilo que conhecemos de Deus. O título mostra que jamais poderia haver uma interpretação que ensinasse como palavra divina qualquer preconceito. E, sim, a religião tem colocado a mulher como um ser menor, de segunda qualidade ou sem nenhuma para milhões de seguidores, que tentam ser fiéis aos ensinamentos de padres, pastores e outras lideranças espirituais.

As mentiras proferidas em nome de Deus têm poder social avassalador, principalmente associadas ao medo de contrariar Deus – em primeiro lugar, a família e a comunidade crente. Está lançada uma semente que propõe reflexões sinceras e profundas a respeito do assunto que deve ser compromisso espiritual de cada ser humano – só se agrada a Deus vivendo a verdade, e social ao adicionar novo eixo para o combate da execrável misoginia.

(*) REGINA DELIBERAI TREVISAN é jornalista e empresária. Autora de “Deus não é Machista”.

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