Cuiabá, 24 de Novembro de 2025

OPINIÃO Segunda-feira, 24 de Novembro de 2025, 08:36 - A | A

Segunda-feira, 24 de Novembro de 2025, 08h:36 - A | A

Sandra Alves

De quem é a culpa? O vício humano de achar culpados

Sandra Alves

Recentemente tive a oportunidade de conhecer o trabalho incrível da dona Ivone, uma senhora que cuida com amor e carinho de 200 gatos de rua, abandonados, vítimas de maus tratos, além dos que aparecem por lá livremente.
Eu que tenho apenas dois gatos, fiquei impressionada de ver o tanto de trabalho que dá cuidar de duzentos bichanos. Mas este não é o trabalho principal da dona Ivone.
Ela me contou que é investigadora da polícia civil, contou também sobre os desafios da profissão: “trabalhar com as vítimas e os culpados”.
Fiquei pensando no trabalho desta senhora, porque enquanto um humano médio procura um culpado rápido, o investigador procura: causa real, motivo, inconsistência, fatos.
Realmente é um desafio resistir ao impulso de aceitar o primeiro culpado que aparece e assim resolver a história.

 

Padrão ancestral

Culpar alguém é um dos mecanismos psicológicos mais antigos da humanidade.
De fato, antes de existir psicologia, existia a sobrevivência.
Veja o caso de um dos relatos mais famosos neste sentido, encontrados na bíblia. Em Gênesis 3:12,13, Adão culpou a mulher e também culpou a Deus pelo pecado quando disse: “A mulher que TU me deste como companheira, me deu da árvore, por isso comi”. E Eva é claro, culpou a serpente! Tem até um ditado popular que diz: Errar é humano, colocar a culpa no outro, é mais humano ainda.

 

Ainda vivemos no Jardim do Édem

Imagine que uma pessoa compra um eletrodoméstico e não lê o manual de instruções, usa de forma errada o aparelho e ainda assim culpa o fabricante pelo mau funcionamento. O que você diria?
Deus é sempre o culpado perfeito. Ele é o único que não responde mensagem, não discute e não devolve o argumento. É silencioso.
Mas ainda reagimos como nossos antepassados, procurando “culpados mágicos” para fenômenos que não entendemos:
“Perdi o emprego, Deus quis assim”
“Meu relacionamento deu errado, meu ex era abusivo”
“Nada dá certo pra mim, destino, karma, olho gordo”
Essas explicações podem até dar alívio, mas se agirmos assim, acabamos condenados a repetir as mesmas histórias.

 

Comece uma investigação

O investigador é orientado pela realidade, não pelo alívio momentâneo.
Pergunte-se: quando começou o meu problema? Qual foi a causa real? Onde está a inconsistência? O que há além da minha dor?
Resista ao impulso de fechar o caso rápido.
Toda narrativa confortável esconde um fato desconfortável.
No campo emocional, investigar significa estar atento à vibração sustentada antes de um acontecimento.
Nossas emoções são precedidas pelos nossos pensamentos. Um pensamento gera um sentimento que gera uma ação.

 

Toda mudança começa na mente, não no outro

Expandir a consciência é o que separa quem está desperto de quem está dormindo.
Da próxima vez que a vida doer, antes de achar um culpado imediatamente, faça uma profunda investigação, e mude a narrativa.
Ao invés de perguntar: quem errou comigo? Pergunte-se: qual parte de mim está pronta para crescer agora? Como posso mudar isso?
Tenho certeza de que será libertador!
Ah, e voltando a falar da dona Ivone, ela é um bom exemplo a ser seguido. Ela não se preocupa e nem procura os culpados de abandonar e maltratar os gatinhos. Ela doa amor, carinho e atenção. Faz a parte dela pra mudar o mundo.
Ela sabe o nome de todos os gatos, têm alguns ainda sem nome porque chegaram recentemente ao abrigo, e entre eles uma delas vai se chamar Sandra.
De fato, dona Ivone entendeu tudo.

 

*Sandra Alves é Mentora de Relacionamentos e criadora do Método Aliança Interna, voltado para mulheres que desejam viver o amor com consciência, maturidade e auto valor.

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