Cuiabá, 09 de Agosto de 2025

INTERNACIONAL Sexta-feira, 08 de Agosto de 2025, 08:27 - A | A

Sexta-feira, 08 de Agosto de 2025, 08h:27 - A | A

diz jornal

Rússia vive maior crise de corrupção entre funcionários do alto escalão em década

R7

Rússia vive a maior crise de corrupção entre altos funcionários em mais de uma década, segundo uma investigação publicada na quarta-feira (6) pelo jornal independente russo Novaya Gazeta.

O caso mais recente, que chocou o país, foi o aparente suicídio do ex-ministro dos Transportes, Roman Starovoyt, acusado de desviar bilhões de rublos durante a construção de fortificações na fronteira com a Ucrânia.

O episódio, ocorrido em julho, é apenas a ponta de um iceberg de expurgos e prisões que expõem a instabilidade no Kremlin, de acordo com a Novaya.

Na última semana, o ex-governador de Tambov, Maksim Yegorov, foi detido por suspeita de receber subornos vultosos. Dias antes, em 22 de julho, o ministro dos Transportes de Novgorod, Konstantin Kuranov, também foi preso pelo mesmo crime. No dia 18, o vice-presidente do governo regional de Novgorod, Stanislav Shultsev, enfrentou acusações semelhantes.

Desde o início deste ano, pelo menos 99 legisladores regionais e altos funcionários foram alvo de processos criminais, uma média de 14 casos por mês, segundo a Novaya Gazeta.

A investigação, baseada em fontes abertas, como reportagens da mídia russa, rastreia a abertura de processos contra altos funcionários, definidos como vice-chefes de ministérios federais ou regionais e vice-prefeitos de capitais regionais.

Agências de segurança lideram a lista de setores mais afetados, com 28% dos casos, seguidas por construção e habitação (18%), comércio e indústria (11%) e transporte e recursos naturais (8% cada).

Quase metade das prisões de altos funcionários nos últimos 10,5 anos ocorreu desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia, em 2022. O número de detenções de autoridades federais, como ministros e chefes de departamento, já supera os níveis pré-guerra.

“Para uma autocracia sobreviver, ela precisa incutir medo, mas sem desencadear terror generalizado”, disse ao jornal a cientista política russa Yekaterina Schulmann. Ela acrescenta que as prisões são apresentadas como casos isolados, mas refletem riscos crescentes para as autoridades, redistribuição de ativos e dificuldades para deixar o país.

Repressão

O suicídio de Starovoyt, descrito como o mais notório em décadas, abalou as elites russas. Fontes do Faridaily, veículo independente russo, relataram um clima de medo. “É como estar em uma máquina que te tritura até virar pó”, disse uma delas.

O caso remete a outros episódios, como a condenação de 13 anos do ex-vice-ministro da Defesa, Timur Ivanov, e a morte suspeita do chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, em 2023.

Paralelamente, uma campanha anticorrupção atinge níveis médios e inferiores da burocracia. No primeiro trimestre deste ano, a Procuradoria-Geral da Rússia registrou 15.500 casos de corrupção, 25% a mais que no mesmo período de 2024.

Os processos frequentemente vêm acompanhados de confiscos de bens. Em 25 de junho, o Secretário de Estado do Daguestão, Magomed-Sultan Magomedov, foi detido, e, no dia seguinte, um tribunal confiscou bens seus e de familiares, incluindo empresas de combustíveis.

“Esses confiscos são migalhas em meio à repressão contra autoridades”, disse um sociólogo, que preferiu manter o anonimato, à Novaya. Segundo ele, o objetivo é intimidar elites, ricos que hesitam em apoiar o governo e os siloviki — o establishment de segurança —, cujas fontes de renda, como propinas, estão sendo redirecionadas a aliados do Kremlin.

Comente esta notícia