Se Elon Musk foi peça-chave na vitória de Donald Trump nas eleições de 2024, sob os holofotes de uma campanha barulhenta, agora o bilionário se despede da Casa Branca de forma discreta.
Contexto: a saída de Musk do comando do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) foi confirmada na noite de quarta-feira (28). No governo, o bilionário ocupava um cargo especial — que, por lei, só pode durar 130 dias.
Musk deixou o comando do DOGE dois dias antes do prazo limite.
A saída veio um dia após ele criticar um projeto fiscal de Trump que pode elevar os gastos públicos.
No X, ele limitou-se a agradecer ao presidente pela oportunidade.
Segundo a agência Reuters, os dois não tiveram uma conversa formal antes da despedida.
Vaivém: a relação entre Trump e Musk é antiga, mas se intensificou no ano passado e foi marcada por reviravoltas.
Em março de 2024, Musk se reuniu com Trump. No X, ele negou que estivesse doando dinheiro para campanhas presidenciais. Meses depois, tornou-se o principal financiador dos republicanos, investindo mais de US$ 200 milhões.
Em maio de 2024, ele negou que ocuparia um cargo de conselheiro em eventual segundo mandato de Trump. Já em janeiro deste ano, foi nomeado chefe do DOGE.
Durante a campanha, Musk participou de comícios de Trump e virou astro entre os republicanos. Nas redes sociais, criticou os democratas e chegou a divulgar um vídeo falso em que a candidata Kamala Harris insultava Joe Biden.
Casamento
A união entre Musk e Trump foi sacramentada após as eleições presidenciais. Mesmo antes da vitória, Trump já exaltava o bilionário com frequência.
Só amores: Nas redes sociais, Musk dizia que Trump era um "cara bom", "forte" e que salvaria o país. O republicano retribuiu os afagos durante seu discurso da vitória, quando reservou alguns minutos para chamar o bilionário de "supergênio" e "um cara incrível".
Dias depois da vitória nas eleições, o então presidente eleito confirmou que o Musk seria o chefe do DOGE.
Musk, por sua vez, dizia que a eleição era só o começo de suas ambições políticas.
Na posse de Trump, o bilionário fez um discurso acalorado e subiu ao palco comemorando. Naquele dia, ele causou polêmica ao fezer um gesto que foi comparado a uma saudação nazista.
No dia seguinte, Musk ameaçou retaliar senadores que não apoiassem os indicados de Donald Trump para compor o secretariado do governo. Segundo a revista "Time", ele usaria seu poder financeiro para prejudicar os políticos nas próximas eleições.
No início do governo, Musk apareceu várias vezes ao lado de Trump. Enquanto isso, o presidente o elogiava publicamente.
“Elon está fazendo um ótimo trabalho, ele está encontrando fraudes, corrupção e desperdícios tremendos", disse Trump em fevereiro.
Crise e divórcio
Indícios de que a relação entre Trump e Musk estavam começando a azedar surgiram em abril. No início daquele mês, o site "Politico" afirmou que o bilionário iria deixar o governo nas próximas semanas e que a saída já havia sido acertada entre os dois.
Negação: Trump minimizou a reportagem do Politico e afirmou que Musk ficaria no governo pelo tempo que quisesse. Já o bilionário disse no X que o texto era uma notícia falsa.
Nos bastidores, o entorno do presidente já demonstrava incômodo com a imprevisibilidade do bilionário.
Aliados diziam que Musk havia se tornado "um fardo político" e ofuscava Trump com frequência.
Aceitação: Nas semanas seguintes, tanto Musk quanto Trump começaram a dar sinais de que a relação entre os dois estava chegando ao fim.
No dia 7 de abril, o jornal "The Washington Post" revelou que Musk estava pressionando Trump a reverter o "tarifaço" contra outros países.
O bilionário também criticou publicamente Peter Navarro, assessor de Trump visto como arquiteto do plano tarifário, chamando-o de imbecil.
No mesmo período, o irmão do bilionário, Kimbal Musk, foi às redes sociais criticar a medida, afirmando que Trump estava se tornando o presidente com os impostos mais altos em anos.
No fim do mês, o presidente repetiu que Musk poderia ficar no governo o tempo que quisesse, mas afirmou que ele queria "voltar para casa".
Término: a saída oficial de Musk do governo foi precedida por críticas públicas do bilionário a um plano fiscal de Trump, que segundo ele prejudicaria seu trabalho no DOGE e custaria caro.
Segundo a agência Reuters, a saída de Musk do governo foi "rápida e sem cerimônias".
Fontes da Casa Branca disseram que o bilionário não conversou com o presidente antes de deixar o cargo.
Chamou atenção o fato de Musk ter deixado o cargo dois dias antes do prazo legal para funções especiais, de 130 dias.
No X, Musk escreveu: "Gostaria de agradecer ao presidente Donald Trump pela oportunidade de reduzir gastos desnecessários".
Na quinta-feira (29), repostou a publicação de um usuário que dizia que a mídia tentaria convencer que ele e Trump não eram mais amigos.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o governo agradecia o trabalho de Musk, mas não quis comentar sua saída. Já Trump usou uma rede social para afirmar que o bilionário não está deixando o governo de fato, já que continuará "sempre" ajudando.