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ECONOMIA Domingo, 02 de Novembro de 2025, 09:07 - A | A

Domingo, 02 de Novembro de 2025, 09h:07 - A | A

relação comercial

Reaproximação entre China e EUA pode reduzir fatia brasileira nas exportações de soja

R7

A guerra comercial entre a China e os Estados Unidos ganhou mais um capítulo no fim de outubro, quando as duas maiores potências mundiais firmaram uma trégua de um ano. Pequim informou que vai voltar a comprar a soja dos americanos, o que trouxe uma certa volatilidade para o mercado do grão no Brasil.

Hoje, a soja é o principal produto comprado pelos chineses na relação comercial com o Brasil. De 2018 a 2024, o Brasil exportou US$ 571,1 bilhões para a China, sendo quase US$ 198 bilhões só em soja, o equivalente a cerca de 34%.

Os valores da balança comercial brasileira foram alcançados após a tensão comercial entre os países em 2018. Naquele ano, o Brasil exportou US$ 27,2 bilhões em soja para a China, contra US$ 20,3 bilhões no ano anterior, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Para o doutor em internacionalização e especialista em negócios João Alfredo Nyegray, o reaquecimento das relações bilaterais entre os chineses e os americanos faz com que o mercado volte a se equilibrar.

O especialista entende que este novo contexto pode pressionar os preços internacionais e reduzir, ainda que parcialmente, a fatia brasileira nas exportações destinadas à China, especialmente nas janelas em que os embarques americanos são mais competitivos.

“No entanto, não se trata de um prejuízo estrutural. A China busca segurança de suprimento e dificilmente abandonará o Brasil como parceiro estratégico. A reaproximação com Washington tem um caráter político e simbólico, e as compras chinesas de soja americana servem mais como gesto diplomático do que como substituição duradoura”, acredita.

Em entrevista à Fox News, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que o acordo com a China deve ser assinado na próxima semana. Segundo ele, serão compradas ao menos 12 milhões de toneladas de soja ainda neste ano. A parceria também estabelece a aquisição de 25 milhões de toneladas anuais nos próximos três anos.

Para o especialista em comércio exterior Jackson Campos, esse acordo tende a reduzir a demanda por soja brasileira. Entretanto, o impacto deve ser parcial.

“O Brasil mantém vantagens logísticas e cambiais na colheita, e parte da produção pode ser redirecionada para outros mercados, como União Europeia, México e Oriente Médio, caso haja diferencial competitivo de preço”, afirmou.

Apesar de a trégua aumentar a concorrência para o Brasil, o especialista pontua que a redução das tensões comerciais tende a estabilizar rotas marítimas e custos logísticos, o que pode trazer um alívio ao comércio global.

“Para o Brasil, o principal desafio será acelerar a diversificação de mercados e produtos, agregando valor com derivados como farelo, óleo e biocombustíveis, além de consolidar novos destinos de exportação”, frisa Campos.

Prejuízo a produtores dos EUA

Segundo a imprensa americana, em 2024, por exemplo, os chineses compraram 52% de todas as exportações de soja dos EUA, totalizando quase US$ 13 bilhões. Em setembro deste ano, porém, a China não comprou o produto do país.

O afastamento dos compradores chineses gerou preocupação aos produtores americanos, uma vez que havia o risco de faltar espaço para o armazenamento dos grãos.

Nas redes sociais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a afirmar que os produtores estariam sendo prejudicados porque a China, “por questões de negociação”, não estava comprando a soja.

Terras raras

Além de conversarem sobre o comércio do grão, os americanos e os chineses avançaram nas negociações sobre terras raras. Na reunião, Pequim decidiu suspender as medidas restritivas ao comércio mineral. Essa aproximação pode significar novos desafios à ambição brasileira de entrar nesse mercado.

O Brasil é o país com a segunda maior reserva de terras raras, com 23% das reservas mundiais, ficando atrás somente da China, que possui 49%. Em 2010, os chineses chegaram a atingir 95% da participação global.

Para Nyegray, o fim das restrições por parte da China reduz, no curto prazo, a urgência de diversificação de fornecedores, “o que esfria o ímpeto de países como o Brasil de se posicionarem como alternativa imediata”. Porém, segundo ele, isso não surge como um impedimento para outras oportunidades ao Brasil.

A dependência estrutural de um único fornecedor é vista com desconfiança em Washington, e o Brasil, se oferecer estabilidade regulatória, segurança jurídica e capacidade de processamento industrial, pode tornar-se parceiro relevante.

“O ponto central é que o jogo dos minerais raros não é apenas geológico, mas geopolítico e institucional. Exige rapidez decisória, infraestrutura e previsibilidade, atributos que ainda são desafios para o país. Assim, o acordo entre EUA e China não exclui o Brasil, mas o obriga a competir em um nível mais alto de eficiência e de clareza estratégica”, completa.

Aumento nas exportações brasileiras

redução nas importações de soja dos Estados Unidos pela China impulsionou um crescimento de 15%, nos últimos sete anos, das compras de soja brasileira por chineses. Os dados constam do Comex Stat, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

O crescimento, de US$ 27,2 bilhões em 2018 para US$ 31,5 em 2024, está atrelado à disputa comercial entre os países, que fez com que a China deixasse de ser o principal comprador da soja americana.

Se compararmos os dados das exportações do produto ocorridas apenas em setembro, o Brasil registrou um aumento de 70% no envio de soja para a China entre 2018 e 2025.

 

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