A decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), de iniciar um ciclo de corte de juros nos Estados Unidos reacendeu o apetite global por risco e abriu espaço para que investidores brasileiros busquem diversificação fora do país. O movimento, segundo especialistas, tende a favorecer o crescimento econômico mundial, impulsionar as bolsas e estimular a busca por alternativas de maior rentabilidade — inclusive entre quem tem pouco dinheiro para começar.
Felipe Marcilio, head de investimentos do Banco Inter, explica que a queda dos juros americanos costuma ser positiva para o mercado global.
“Com o crédito mais barato, empresas investem mais, consumidores gastam mais e os lucros corporativos tendem a crescer — o que historicamente favorece a valorização das bolsas e dos ativos de risco”, afirma.
Para o investidor brasileiro, o cenário abre espaço para uma diversificação mais eficiente.
“Aumenta o apetite por ativos globais e reduz a pressão sobre o dólar. Em momentos assim, vale lembrar que o sucesso nos investimentos não vem de prever o próximo ciclo, mas de manter disciplina, paciência e uma estratégia consistente ao longo do tempo”, afirma Marcilio.
Cenário global
O economista Hugo Garbe, doutor em economia e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, destaca que a decisão do Fed representa uma “inflexão importante” na política monetária norte-americana.
“Depois de um dos períodos mais longos de aperto desde os anos 1980, o Fed indica que a prioridade agora é sustentar o crescimento e evitar uma desaceleração mais acentuada da economia. Isso tende a provocar uma reprecificação global do risco e a redirecionar fluxos de capital para mercados emergentes”, avalia.
No caso do Brasil, segundo ele, o efeito é duplo. “De um lado, reduz a atratividade dos ativos norte-americanos e abre espaço para o investidor local olhar novamente para fora. De outro, o relaxamento monetário global tende a valorizar ativos de maior risco, o que também pode atrair capital estrangeiro para a Bolsa e para títulos locais”, explica.
Investir fora
Marcilio lembra que a diversificação já é uma realidade para muitos brasileiros. “Hoje é possível investir fora com valores acessíveis, aproveitando o potencial de valorização de empresas e economias líderes mundiais. É possível começar com apenas US$ 5. O mais importante é investir de forma regular e disciplinada — mesmo com aportes pequenos”, afirma.
Para Garbe, o movimento de globalização das carteiras é favorecido por plataformas digitais que democratizaram o acesso a investimentos no exterior, mas ainda enfrenta barreiras estruturais.
“O real é uma moeda volátil e sensível a choques externos, e qualquer deterioração fiscal pode gerar desvalorização cambial. Além disso, o investidor brasileiro ainda tem um viés de preferência por ativos locais, sustentado pelos juros altos e pela familiaridade com o mercado doméstico”, pondera.
Entre os pontos de atenção, Marcilio cita a tributação e a oscilação do câmbio. “Investir fora deve ser uma decisão de longo prazo, alinhada ao perfil e aos objetivos do investidor. Globalizar o patrimônio não depende do preço do dólar — é um movimento saudável e atemporal”, afirma.
Mesmo com o diferencial de juros ainda elevado entre Brasil e Estados Unidos, Garbe ressalta que esse quadro pode mudar. “Se a trajetória de queda americana se confirmar e o Banco Central do Brasil encerrar o ciclo de cortes, o diferencial tende a se estreitar, reduzindo a vantagem doméstica”, observa o economista.


