Cuiabá, 10 de Agosto de 2025

POLÍCIA Sábado, 09 de Agosto de 2025, 09:06 - A | A

Sábado, 09 de Agosto de 2025, 09h:06 - A | A

2.970 VÍTIMAS ACOLHIDAS

"O medo de denunciar não pode nos paralisar", diz mulher assistida pela Patrulha Mª da Penha

Redação

"O medo de denunciar não pode nos paralisar. Vivemos anos sendo vítimas de violência doméstica, mas chega uma hora que é preciso dar um basta nesse ciclo para podermos seguir em frente". Esse é o depoimento de uma das 2.970 mulheres que foram acolhidas pelo Programa Patrulha Maria da Penha, da Polícia Militar de Mato Grosso, neste ano. 

Marluce* vive na zona rural do município de Nossa Senhora do Livramento e foi casada com o ex-marido por mais de dez anos. Em diversas situações, passou momentos de pânico nas mãos do agressor, sofrendo violência física e psicológica. 

"Na maioria das vezes, ele estava embriagado. Me tratava mal, dizia coisas horríveis e fazia eu me sentir a pior pessoa do mundo. Em outras situações, me agredia com tapas, socos e chutes. Uma das agressões quebrou meus dentes e sempre me ameaçava caso eu acionasse a polícia", contou, relembrando os momentos de dor que passou junto do agressor. 

Em um certo dia, após conversar com a filha, tomou a decisão de acionar a Polícia Militar, por meio do 180, para relatar a situação e pôr um fim às agressões. A partir da denúncia, Marluce passou a ser assistida pelo Programa Patrulha Maria da Penha e recebeu a devida atenção e acolhimento.

"Eu passei muito mal, desenvolvi crises de ansiedade só de pensar em denunciar o agressor, com medo do que ele poderia fazer comigo. Mas, depois de muita coragem e determinação, eu decidi fazer o que era certo e o melhor pra mim, para minha vida, que era denunciar. Com o tempo, fui acolhida da melhor maneira possível e reconheci que nada do que aconteceu era minha culpa", ressaltou, sobre a importância de integrar a Patrulha Maria da Penha.

A vida de Joselma* também mudou a partir do momento em que ela reconheceu ser vítima de violência doméstica em Várzea Grande. Há três meses, ela denunciou o ex-marido, com quem foi casada por 10 anos, após perceber que vivia um relacionamento cercado por medo, insegurança e violência.

"A gente fica numa situação e se acostuma a conviver com ela. No começo, não percebemos se tratar de violência doméstica e, com o tempo, você está sendo agredida de diversas maneiras. Essa foi uma realidade que reconheci por meio da Patrulha Maria da Penha, no qual me prestaram todo apoio possível, desde orientação jurídica e ajuda psicológica para poder superar esse trauma", contou. Ambas as vítimas possuem medidas protetivas contra os agressores. 

A Patrulha Maria da Penha teve início em 2019 como objetivo encerrar ciclos de violência e resgatar a sensação de segurança e dignidade das vítimas. Dos 142 municípios, o programa está ativo em 98 cidades, por meio de 41 núcleos, dos 15 Comandos Regionais. Neste ano, 4.008 medidas protetivas foram decretadas pelo Poder Judiciário e 346 casos de descumprimento foram registrados. Além disso, 124 homens foram presos em flagrante por violência doméstica, 5.524 visitas solidárias às vítimas foram contabilizadas, e 642 autores foram visitados para trabalhos de orientação. Mato Grosso registrou um caso de feminicídio entre as mulheres assistidas pelo programa Maria da Penha. 

A comandante da Patrulha Maria da Penha, do 1° Comando Regional, capitã PM, Gabrielle Narjara, destacou que o programa promove atividades de prevenção primária com a realização de palestras, orientações, blitz educativas e outras formas de acolhimento, assegurando uma rede de proteção e incentivando as vítimas a denunciar. Além disso, desde a implantação em Mato Grosso, as equipes têm se dedicado de forma incansável à proteção de vítimas de violência doméstica, garantindo o cumprimento das medidas protetivas de urgência e promovendo a sensação de segurança para essas mulheres. 

"Esse número reflete não apenas a ação ostensiva da Patrulha, mas também o fortalecimento da rede de proteção, o diálogo constante com o Judiciário e Ministério Público, e a confiança das mulheres assistidas em nosso trabalho. Porque sabemos que a violência doméstica deixa marcas que vão além das visíveis. Marcas emocionais, psicológicas, silenciosas e é justamente por isso que nosso trabalho vai além da fiscalização. É um trabalho de escuta, acolhimento e proteção integrada. Entendemos que essa não é uma batalha de curto prazo, que há desafios estruturais, culturais e institucionais, mas sabemos também que cada mulher salva é uma vitória imensurável no nosso Estado", enfatizou. 

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Cláudio Fernando Tinoco, destacou que o programa tem reduzido os índices de reincidência de violência entre as mulheres atendidas, e que os resultados positivos são uma soma de esforços no trabalho do policiamento ostensivo, preventivo e dos investimentos do governo no âmbito da segurança pública em Mato Grosso. Desde 2019, o Governo de Mato Grosso já investiu mais de R$ 2,3 milhões no programa Patrulha Maria da Penha, voltados para compra de viaturas e equipamentos tecnológicos e de trabalho próprios, além da reforma de locais e sedes para atendimento às vítimas.

"A atenção da primeira-dama Virginia Mendes representa um fortalecimento da rede de enfrentamento ao combate à violência contra as mulheres e vulneráveis, para que possamos potencializar as nossas ações em todo o Estado. Já possuímos a jornada extraordinária com várias operações dentro do Estado e agora de forma específica para atuação na violência contra a mulher”, pontuou coronel Fernando.

Operação Integrada Shamar 2025

As Forças de Segurança do Estado deflagrou a Operação Integrada Shamar 2025, na quinta-feira (7.8), que marca o "Dia D" da mobilização nacional de combate a violência contra mulher. A ação conta com equipes da Polícia Militar, Civil, Corpo de Bombeiros, Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), e Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec). 

"A Operação tem como principal missão atuar de forma conjunta e integrada com todas as forças de segurança pública no enfrentamento à violência contra a mulher. Mais do que ações ostensivas e operacionais, ela foca também na prevenção, por meio de orientações e palestras que buscam conscientizar e encorajar as mulheres a romperem o ciclo de violência", afirmou o secretário-adjunto de Integração Operacional, coronel Fernando Augustinho.

Coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), a Operação Shamar ocorre em todo o território nacional tradicionalmente no mês de agosto. A iniciativa faz referência ao aniversário da Lei Maria da Penha, que completa 19 anos de promulgação neste dia 7 e integra a campanha Agosto Lilás. 

Comente esta notícia