Cuiabá, 18 de Maio de 2025

POLÍCIA Quinta-feira, 15 de Maio de 2025, 14:26 - A | A

Quinta-feira, 15 de Maio de 2025, 14h:26 - A | A

durante depoimento

Caseiro confessa que matou o advogado Renato Nery

Da Redação

O caseiro Alex Roberto de Queiroz Silva, confessou a autoria do assassinato do advogado Renato Nery enquanto prestava depoimento na Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), em Cuiabá, na manhã desta quinta-feira (15).

Conforme a polícia, Alex disse em depoimento à polícia, que a arma usada no crime foi alugada por R$ 1.500 de uma pessoa que, segundo ele, está morta. Ao todo, 10 pessoas foram presas e seis foram indiciadas por envolvimento no caso.

A Polícia Civil informou que o crime pode ter começado a ser planejado em abril de 2024, quando o policial militar Heron Teixeira Pena Vieira, apontado como um dos intermediadores, alugou a chácara com a intenção de matar o advogado.

Conduta individualizada

As investigações da DHPP identificaram um casal, moradores do município de Primavera do Leste, como mandante do crime. A motivação do crime foi uma disputa de terra. Ambos tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça, e as ordens foram cumpridas na última sexta-feira.

De acordo com as apurações, o policial militar foi o intermediário contratado para fazer o “serviço”. Ele conseguiu a arma de fogo usada no homicídio e foi quem repassou a arma para o caseiro da chácara, que pilotou a motocicleta Honda Fan até o local do crime e efetuou os disparos que atingiram o advogado.

Crime arquitetado

Durante as diligências, foi constatado que tanto o militar como o caseiro vinham monitorando a vítima por vários dias.

Também foi comprovado que, no dia anterior ao homicídio (4 de julho), o caseiro parou com a moto próximo do escritório do advogado, em horário idêntico e no exato local de onde atirou na vítima no dia 5 de julho. Nesses dois dias, o caseiro conduziu a moto Honda Fan.

As provas demonstraram que o crime foi premeditado e a intenção era assassinar o advogado no dia 4. Mas, por algum motivo alheio, o crime não se consumou no dia planejado, provavelmente devido a alguma circunstância inesperada.

Investigação

No dia 5 de julho, após cometer o homicídio em frente ao escritório de advocacia, na avenida Fernando Corrêa da Costa, em Cuiabá, o executor percorreu cerca de 30 quilômetros até chegar na chácara localizada no bairro Capão Grande, em Várzea Grande.

Todo o trajeto da motocicleta foi registrado por diferentes câmeras instaladas nas vias públicas. No dia 8 de julho, a equipe da DHPP conseguiu acessar a última câmera, que captou imagens da moto a menos de 2 quilômetros da chácara.

Diante da descoberta, no dia 10 de julho, todo efetivo da DHPP foi empregado para realizar buscas na região do bairro Capão Grande, com objetivo de localizar a motocicleta, até então a principal pista da investigação.

O delegado Bruno Abreu, que presidiu o inquérito, explicou que essa movimentação intensa de policiais civis, nas proximidades da chácara, causou temor aos dois suspeitos quanto à localização da arma de fogo e alcance das autorias.

“As evidências indicam que o intuito era abandonar a arma empregada no homicídio, fazendo com que a situação de confronto se mostrasse real e, com isso, levasse à possível incriminação das pessoas abordadas na ocorrência do suposto confronto registrado no dia 11 de julho”, disse Bruno Abreu.

Com a conclusão desse inquérito e indiciamentos dos dois envolvidos, o caseiro e o militar seguem presos preventivamente à disposição da Justiça. Os autos foram encaminhados para o Judiciário e ao Ministério Público Estadual para oferecimento de denúncia.

Já entre o casal apontado como mandante, a mulher aceitou colaborar com a investigação e irá falar em depoimento, acompanhada de advogado. O homem segue negando o crime e permaneceu calado durante todo o depoimento. A conduta dos dois será apurada em inquérito complementar.

Sobre o confronto

Outros quatro militares foram indiciados em outro inquérito da DHPP que apurou o confronto entre criminosos e a Polícia Militar, ocasião em que foi encontrada a arma utilizada no assassinato do advogado.

A suposta ocorrência foi registrada sete dias depois do homicídio. Essa investigação tramitou de forma distinta e simultânea com o inquérito sobre o homicídio de Renato Nery.

Ao contrário da versão apresentada pelos militares, de que as pessoas abordadas na ocorrência faziam uso de arma de fogo, constatou-se que aquelas pessoas não estavam armadas na ocasião.

A investigação apurou, com base em exames periciais e outras provas, que as armas apresentadas pelos militares foram colocadas na cena do crime depois do suposto confronto.

Os quatro envolvidos foram inquiridos mais de uma vez sobre a ligação da arma com o homicídio do advogado, mas os militares reservaram-se no direito ao silêncio.

Vale lembrar que, até o momento, não há indícios de participação direta dos demais militares na execução do homicídio do advogado.

O inquérito sobre o confronto, concluído na semana passada, aponta o envolvimento dos quatro no sentido de ocultar a impunidade do crime anterior, pelo fato do grupo ter dispensado a arma de fogo usada no homicídio de Renato Nery.

Continuidade da investigação

A DHPP instaurou inquérito complementar para esclarecer outros fatos ocorridos após o homicídio do advogado.

Um dos pontos será o pagamento de valor feito ao militar e ao caseiro, bem como a pessoa que efetuou o pagamento, além de identificar por onde o armamento passou até aparecer na cena do suposto confronto e averiguar as condutas de outras pessoas que agiram como intermediárias do homicídio.

O homicídio

Renato Nery morreu aos 72 anos, atingido por disparos de arma de fogo, no dia 5 de julho do ano passado (2024), na frente de seu escritório, na capital. A vítima foi socorrida e submetida a uma cirurgia em um hospital privado de Cuiabá, mas morreu horas depois do procedimento médico.

Desde a ocorrência, a DHPP realizou inúmeras diligências investigativas, com levantamentos técnicos e periciais, a fim de esclarecer a execução do advogado.

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