Cuiabá, 04 de Setembro de 2025

OPINIÃO Terça-feira, 02 de Setembro de 2025, 08:57 - A | A

Terça-feira, 02 de Setembro de 2025, 08h:57 - A | A

NAILTON REIS

Setembro Amarelo: Masculinidades e Suicídio

A masculinidade hegemônica construiu uma ideia de força associada ao silêncio. Engolir o choro, esconder a angústia e seguir adiante como se nada estivesse acontecendo se transformou em regra. Esse silêncio, tratado como virtude, se torna uma prisão

NAILTON REIS

“Homem de verdade não chora. Homem de verdade aguenta. Homem de verdade não fala de dor.” Essa cartilha atravessa gerações e continua a moldar a vida de meninos e homens adultos. O preço, no entanto, pode ser devastador.

A masculinidade hegemônica construiu uma ideia de força associada ao silêncio. Engolir o choro, esconder a angústia e seguir adiante como se nada estivesse acontecendo se transformou em regra. Esse silêncio, tratado como virtude, se torna uma prisão. Para muitos, uma prisão letal.

Dados revelam que, no Brasil e em outros países ocidentais, os homens morrem por suicídio de três a quatro vezes mais frequentemente do que as mulheres, mesmo que as mulheres tentem suicídio com maior frequência. Em 2019, por exemplo, a taxa de mortalidade masculina por suicídio no Brasil foi de 10,7 por 100 mil, contra 2,9 por 100 mil entre mulheres — um risco 3,8 vezes maior para os homens. Esse contraste se explica em parte pelos métodos adotados: os homens escolhem formas mais letais, em geral, para expressar uma dor que não souberam verbalizar.

O suicídio entre homens mostra como o fardo de “ser homem de verdade” pode ser insuportável. Não se trata apenas de números, mas de vidas interrompidas pela ausência de espaços de fala, de escuta e de cuidado.

Falar, nesse contexto, não é sinal de fraqueza. É ato de coragem. É um gesto de sobrevivência. Ao quebrar a regra da mudez imposta, o homem abre uma porta para a vida. Entre o peso de provar masculinidade e a chance de romper o silêncio, escolher falar pode significar salvar-se.

 

Setembro Amarelo nos lembra que cada palavra dita pode ser um fio de resgate. Entre o homem de verdade e o silêncio que sufoca, há sempre uma possibilidade de vida — e nela, a saída que pode preservar muitos.

 

Se você ou alguém que você conhece está em sofrimento ou pensando em suicídio, procure ajuda agora:

• CVV – 188 (ligação gratuita, 24h/7)
• cvv.org.br (chat, e-mail e atendimento online)
• Emergência: 190 (Polícia) ou 192 (SAMU)
• Violência contra a mulher: 180 (Central de Atendimento à Mulher)

Cuidar da vida é responsabilidade de todos nós.

Nailton Reis é Psicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito em Cuiabá-MT
CRP 18/7767

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