Cuiabá, 09 de Agosto de 2025

INTERNACIONAL Segunda-feira, 04 de Agosto de 2025, 08:50 - A | A

Segunda-feira, 04 de Agosto de 2025, 08h:50 - A | A

imposição de tarifa

Para barrar tarifaço, Brasil terá que enfrentar temas que evita com Trump

R7

Com a imposição de tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, especialistas alertam: reverter o chamado “tarifaço” exigirá mais do que discursos ou manifestações diplomáticas.

A única alternativa viável, segundo analistas, passa por negociação direta — abrangendo tarifas e também questões políticas exigidas pelos norte-americanos como parte do pacote.

“O governo brasileiro precisa avaliar o interesse real em manter exportações para os Estados Unidos. Isso requer disposição para tratar também de temas políticos impostos pelos americanos. Sem essa abertura, a negociação não avança”, afirma Rodrigo Giraldelli, especialista em comércio exterior e CEO da China Gate.

‘Jogo de forças’

Na análise de Giraldelli, os Estados Unidos utilizam a tarifa como instrumento de pressão.

A estratégia, aplicada anteriormente em negociações com Europa, Indonésia e China, segue um padrão característico de Trump: adotar medidas extremas para, em seguida, transformar o impasse em vantagem diplomática.

“O entrave está na exigência americana de incluir temas políticos nas conversas. A Casa Branca não aceita limitar a pauta às questões econômicas.”

Segundo ele, o Brasil resiste a abordar tópicos sensíveis, como o caso Bolsonaro, eventuais anistias e decisões do Supremo Tribunal Federal com impacto sobre empresas dos EUA — entre elas, a Starlink. Essa recusa, na visão do especialista, trava o avanço das conversas.

Efeitos imediatos e riscos futuros

Rodrigo Provazzi, consultor em gestão de risco, destaca os impactos diretos da nova tarifa, que atinge 36% das exportações brasileiras aos EUA, com prejuízos já sentidos por setores como carne, café, cacau, frutas e açúcar.

Entre os efeitos mais imediatos, Provazzi aponta:

  • Pressão inflacionária provocada pela desvalorização cambial;
  • Redução do superávit comercial com os EUA;
  • Perda de confiança de investidores internacionais.

Embora China e União Europeia possam absorver parte desses produtos, a transição exige tempo, diplomacia, adaptação regulatória e investimentos logísticos — sobretudo diante das exigências ambientais impostas pelo mercado europeu.

Ambos os especialistas defendem uma postura firme, sem hostilidade. Para Provazzi, o país deve preservar sua soberania sem sacrificar o diálogo, apostando em diplomacia comercial, incentivos industriais e reequilíbrio da balança por meio de acordos bilaterais e multilaterais.

“Negociar, neste contexto, não significa ceder. Trata-se de dialogar, esclarecer posições e buscar um entendimento que favoreça os dois lados”, reforça Giraldelli.

Segundo ele, recorrer à OMC pode ter valor simbólico, mas resultados concretos só devem aparecer no longo prazo.

“A medida adotada prejudica também o consumidor americano, mas trata-se de uma decisão soberana e juridicamente válida do ponto de vista dos Estados Unidos”, acrescenta.

Oportunidades

Apesar da tensão, o cenário oferece chances de diversificação de mercados, fortalecimento da base produtiva nacional e estímulo à inovação e ao valor agregado nas exportações.

Provazzi lembra que o Brasil possui ativos estratégicos relevantes — como o agronegócio e a transição energética —, que podem ser mobilizados para ampliar a presença internacional e obter ganhos diplomáticos futuros.

“Com uma postura firme e diplomática, o país pode proteger seus interesses essenciais, manter sua estabilidade econômica e fortalecer sua inserção internacional”, conclui o consultor.

 

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